-TAKE 1 -
Sexta feira de muita chuva, daquelas que enchem a cidade e param o trânsito e pra mim mais um dia longo no trabalho. A expectativa de sair tarde era eminente pois as complicações do dia me mostravam que não ia tão cedo pra casa. Liguei pra ela e a avisei que a princípio estava sem hora pra sair, que não me esperasse e jantasse logo, sempre odiei empatar as pessoas.
Mas as coisas acabaram clareando e o que parecia complicado foi rapidamente resolvido. Estava livre pra ir embora bem mais cedo do que esperava e o fiz. No caminho já pensava o que faríamos onde comeríamos, se alugaríamos um filme ou mesmo se só ficaríamos deitados na cama conversando, ela apoiada sobre meu ombro amassadinha no meu peito como gostávamos de ficar.
Subi o elevador já eufórico com muitas idéias e uma saudade enorme por ter pensado tanto nela no caminho. Tentei virar a chave da porta e não consegui, droga, tentei de novo e a fechadura estava realmente emperrada, mas porque diabos a chave não virava? Nossa casa estava com a campainha quebrada então bati na por ta algumas vezes. Ela não demorou, mas ao abrir já me veio com a bomba "o Fábio está ai". Aquela não era a primeira vez que ela me botava em uma situação dessas, um xeque mate mental daqueles de esmagar nossos miolos e disparar coração. Poxa, já tinha dito a ela que passar por aquilo não era legal, chegar em casa e dar de cara com ela e um homem lá sozinhos, pior que o cara nunca ia lá em casa e da outra vez que apareceu por lá foi a mesma cena, mas pelo menos a chave tinha rodado.
Voltando para meu taquicardia, eu só conseguia repetir baixo mas audível "não acredito, porque você faz essas coisas comigo?" antes que eu pudesse explodir na mais justificável raiva sai descendo as escadas sem querer explicações. Abri a portaria e me lancei vagarosamente a rua chorando copiosamente sem a menor vergonha, até porque chovia tanto que talvez ninguém reparasse.
Não sei porque tomei a direção do bar, talvez porque já seja instintivo do homem chorar suas agruras sentado num boteco qualquer do lado de outros mal amados. O telefone tocou antes que eu chegasse ao meu aconchegante ponto de fuga e eu só consegui dizer "some da minha vida, você me faz muito infeliz".
-TAKE 2-
Finalmente um feriado, fomos com amigos pra serra, curtir aquela vidinha mais ou menos de churrasco, cerveja, ping pong, piscína, enfim, amenidades. Estávamos nos divertindo até, se não fosse a maldita falta de tesão dela. Porra, um lugar daqueles, amigos, e nem uma transadinha antes de dormir, pra mim isso é inadmissível.
Na última noite eu não aguentei e resolvi puxar a boa e velha discussão de relacionamento. Trouxe a tona os velhos problemas de sempre que não mudavam, que nós não mudávamos. Até que veio o choque. "Acho que não te amo mais""pra mim tá tudo normal, nem bom, nem ruím". Que ótimo, ouvir aquilo, tudo normal. Pra mim estava tudo uma merda, que porra de casamento era aquele? Quem era aquela mulher que dividia a cama comigo e todos os meus planos para o futuro? Vi que talvez eu mesmo não me conhecesse por ter aceitado chegar até ali sem a postura que eu sempre tive nos meus relacionamentos. Acho que o exceço de amor me dobrou, me amoleceu, não soube me defender de todas as situações que ela me fez passar ao longo de dois anos e meio sobre o mesmo teto.
Meu chão se foi e eu estava deitado, caí do Brasil direto no Japão, um tombo enorme. Fechei os olhos e pedi para que o sono viesse o mais rápido possível. Afinal, quem sabe eu não estivesse apenas sonhando, mesmo que acordado.
-TAKE 3-
O fim já era eminente, durante a semana ela já havia me avisado que iria sexta feira para a casa da mãe. Precisava de um tempo, precisava pensar, precisava se afastar de mim. Eu virei um monstro ao longo do tempo, confesso, virei mesmo, me tornei grosseiro, impaciente, ciúmento demais e extremamente irônico em relação a tudo. Deixei de ter o sorriso que só ela conseguia tirar de mim, deixei de ter a simpatia aflorada que ela tinha me feito descobrir em mim mesmo, ela me mostrou tantas coisas novas que eu quase me tornei um eu novo, melhor. Infelizmente, quem construíu, destruíu.
Contei os dias para a chegada da sexta feira e ela chegou, simples, sem grandes acontecimentos ao longo do dia. Tinha dúvidas se ia pra casa vê-la arrumando as malas ou se enrolava mais no trabalho e torcia pra tudo aquilo não ser verdade, ou que pelo menos ela caísse em si, e visse que tudo foi culpa nossa, mas que a gente podia reverter aquilo juntos, como a gente sempre planejou estar desde o dia que a gente se percebeu no mundo.
Optei por vê-la partir, optei pela esperança de chegar em casa e conseguir dissuadí-la a desistir daquela loucura. Ela disse "duas semanas, talvez um pouco mais", enquanto arrumava as malas, eu não queria chorar, mostrar o quanto estava entregue aquela situação, mas as lágrimas simplesmente escorriam de meus olhos e me enxarcavam a camisa, eu olhava hipnotizado e repetia "você nunca mais vai voltar, eu sei". E ela não voltou.
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7 comentários:
Belo texto, tão bom qto suas ilustras! Adoro-te menine! :)
Eita ferro! quase me fez chorar... (fungando)... Tudo bem kaka, gostei dos textos; adoro ficção. rererere... brincadeirinha...(fungando)...
Bons textos! Muito bons! Os camiseteiros tmb são bons blogueiros! Linkadus est! :)
muito bom os textos
está nos meus favoritos
abraços
Eitaaa... a famosa verificação de palavras do blogspot...rs
Gostei do modo como desenvolve o texto. Quando eu voltar a blogar certamente te linkarei...rs
Abraços...
From Camiseteria
Grande Kaká!!! Bom texto, brother. Carregado, Intenso. Visceral. Vou linkar o seu blog no meu. Aliás, anote aí: http://turistadocotidiano.spaces.live.com
Espero você por lá para ler e ser lido. Grande abraço. Se é que vale uma frase nessa hora (como disse a Valéria, eu sou bom em resumir situações):
"Alguém quando parte é porque outro alguém vai chegar. Pra que chorar com despedidas?" - Cazuza.
NÃO ACREDITO QUE INFORMEI ERRADO:
O ENDEREÇO DO BLOG É:
http://oturistadocotidiano.spaces.live.com
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